O Sagrado selvagem


A história da homilética
fevereiro 22, 2012, 8:46 pm
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Não é mais novidade para a nossa sociedade, ver pastores e padres pregando na televisão. Está tão enraizado no cotidiano que não causa mais nenhum espanto. Mas aquilo que estes sujeitos fazem na televisão e rádios, é parte de uma tradição presente na história do cristianismo desde o seu princípio. É o que em linguagem teológica aquilo que chamamos de Homilética.

A história da homilética é a história da tentativa de entender o acontecimento homilético, bem como a história do reconhecimento do trabalho dominical de pregação dos pastores e, desde este século, também das pastoras. Considerando que a homilética é uma prática teológica, devemos nos ocupar com a reflexão que está presente na sua prática. Precisamos alargar esse conceito de homilética que se resume a um sermão ou pregação de alguns minutos (ou horas). A homilia é o próprio cristianismo na experiência viva das pessoas. A palavra antes de ser texto, foi carne, sangue e suor na história.

Em geral uma pregação é um discurso profético proferido no púlpito e é designado como “prédica”. Tal expressão é desconhecida, pois usualmente encontramos nas igrejas conceitos como “sermão” e “homilia” no âmbito católico, ao passo que em algumas tradições a prédica é designada como “mensagem”, que são conhecidos geralmente como “pregação”.

História da prédica.

Na igreja antiga e na idade média já estava presente a prédica. Tanto no Antigo Testamento, quanto em Jesus como na vida dos apóstolos. Aqui cabe romper com o paradigma de que a prédica começa apenas com a Reforma Protestante. Não é privilégio dos protestantes a prática da pregação. Se considerarmos a homilia como algo maior, veremos que em todo o momento o acontecimento homilético esteve presente. Anteriormente a prédica existia exemplificada em outras práticas da Igreja. Não devemos confundir “igreja da palavra” com “instituição verbal”. A liturgia é a prédica da Igreja.

As primeiras reflexões sobre teoria e forma das prédicas foram desenvolvidas por São João Crisóstomo (407 d.C.). Mais adianta Santo Agostinho irá afirmar que o amor de Deus é a única forma pela qual podemos compreender as Escrituras. Na Idade Média a tradição prédica era diversificada. A prédica de modo nenhum passou a segundo plano, mas sim o sacramento tornou-se o centro do culto. A prédica tornou-se ameaça do clero e o pregador virou o arauto que deveria preparar a comunidade para o terror do dia do juízo final. No século VIII, Carlos Magno determinou que toda a comunidade deveria ser feita uma prédica dominical no culto para edificação e instrução do povo. Até então as predicas eram feitas em latim e não compreendidas pelo povo. Mas o clero comum não estava apto para tal tarefa, por serem formados apenas para celebrar as missas. Assim, com exceção das universidades, as prédicas para o povo passaram a ser feitas pelas ordens mendicantes com o tema único da penitência. Assim a mensagem passa a ser enfocada na penitência e controle rigoroso pela confissão auricular.  A partir de então surgem prédicas em favor das indulgências, razão das reformas do século XV ao XVI.

Lutero e a Reforma.

Lutero se apresentou extremamente crítico em relação à Igreja de Roma, condenando sua prática como tolices, histórias mentirosas e lendárias. Mas o próprio Lutero não elaborou uma doutrina da prédica. Mas em seu pensamento podemos perceber a sua predileção pela mensagem oral, como forma escolhida por Deus para se comunicar à humanidade. Sua base está no fato de que Deus se revelou através da sua Palavra encarnada (logos). Juntamente com a Reforma e a ênfase na prédica temos Gutenberg e o desenvolvimento das técnicas de impressão, facilitando a divulgação da palavra escrita. Na Igreja Medieval havia pregação através da liturgia como um todo, enquanto que na Reforma temos uma troca de uma prédica simbólica (liturgia) pela comunicação direta pela palavra oral.

Ortodoxia , século XVI (fim) até XVIII (início).

As igrejas reformadas vão utilizar a prédica como elemento doutrinador a fim de educar os fiéis na identidade confessional. É uma atitude de afirmação da identidade. O Pietismo surge para justamente contrapor a este quadro, no contexto do iluminismo, preocupado com aspectos da vida religiosa, renovação, renascimento, etc. a palavra é conversão. O iluminismo com a prédica de que a razão irá salvar a vida da sociedade. Schleiermmacher comunica aquilo que sente profundamente em si mesmo. Há uma inclinação para a sensibilidade artística no sermão. Por outro lado, Karl Barth vai dizer que a prédica é um instrumento tão somente de proclamação da palavra de Deus, e não mais que isso. Não há espaço para sentimentos do pregador. A pregação da palavra de Deus é a palavra de Deus.

A influência da tradição homilética anglo-saxã sobre o protestantismo latino-americano.

No século XIX se formaram sociedades missionárias na Europa e nos Estados Unidos que veio anunciar o cristianismo na América Latina. A própria idéia de missão está permeada pela teologia dos grandes avivamentos, dotada de uma grande piedade supradenominacional que desejava despertar as pessoas para a graça de Deus.

Esta teologia das missões irá ser responsável por um tipo de prédica no protestantismo latino-americano. Eram prédicas dirigidas à emoção dos ouvintes. Buscava despertar seus sentimentos pela fé cristã, enfatizando a conversão e adoção de um novo estilo de vida. Seu interesse era promover o renascimento espiritual das pessoas. Alguns elementos estão presentes em tais prédicas, como o Legalismo, muito influenciado pelo pietismo e puritanismo. Além disso temos a prédica política. Como o ser humano é por natureza um ser político, a prédica efetivamente será permeada por esta realidade. Outros elementos como a retórica, poética estão presentes na linguagem, que visa causar um efeito no ouvinte. Daí a prédica ser também ser dotada de elementos retóricos e poéticos, visando uma ação comunicadora.



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