O Sagrado selvagem


Violência, religião e psicanálise: uma leitura nos trilhos da Central do Brasil.
fevereiro 22, 2012, 9:06 pm
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“Enquanto todo mundo espera a cura do mal,

E a loucura finge que isso tudo é normal,

Eu finjo ter paciência”. (Lenine, Paciência).

O cotidiano e a violência no trem

O trem vai e vêm todos os dias na Central do Brasil. Enquanto uns chegam para ficar outros partem para nunca mais voltar. Estranho é que passamos pelo trem e por todo o caldo existencial de vidas que cruzam as estações, e não percebemos os tipos de relações que se estabelecem entre aquelas estruturas de ferro, aço, e desespero. Ali onde tudo tem gosto de pressa e angústia, onde falta cidadania e sobra desigualdade, podemos ter a sensação de que ali está toda a engrenagem que move a cidade. É um lugar onde a vida não para e por isso todos estão correndo. Não há tempo para ter paciência.

Poderíamos dizer que a Central do Brasil é efetivamente um lugar de passagem. Um espaço onde nada permanece e tudo é passageiro. Quando o locutor anuncia no alto-falante a partida da composição, uma histeria toma conta das pessoas com olhares religiosos fitos nas modernas telas de LCD que marcam o horário e a plataforma da próxima partida. Quando esta é anunciada, em uma loucura coletiva, aquela massa parte correndo aos gritos em uma luta para conseguir pegar um dos poucos bancos e ir descansando para casa. Os que não conseguem correr, por cansaço ou pela idade, são aqueles muitos que irão em pé, em uma viagem de 40 a 60 min até Gramacho ou Saracuruna. As pessoas que transitam diariamente por este lugar convivem com uma realidade onde violência e cotidiano são faces da mesma moeda.

A realidade descrita acima está inserida em um contexto de relações sócio-históricas que surgem a partir da segunda metade do século XX[1]. O Brasil pós-1964 é marcadamente uma sociedade onde a exclusão social caminha de mãos dadas com o crescimento econômico, baseado no arrocho salarial e a intensificação da exploração do trabalho, oprimindo as manifestações políticas e privilegiando os setores de alta renda[2]. Não é difícil perceber hoje as conseqüências do recente passado brasileiro nos semblantes angustiados e apressados nos trens da Central do Brasil. Estamos aqui falando de uma violência silenciosa, que tem marcado a vida de muitos cidadãos brasileiros que saem às 5h da manhã para chegar ao trabalho. A nossa sociedade industrial é capaz de gerar os anestésicos necessários capazes de nos livrar do fardo de ter que encarar a realidade de “cara limpa” [3]. Mas isso é para alguns poucos cidadãos. Os outros vão de trem, e a realidade deles é feita de cores nuas e cruas.

A história social no leva a perceber as estruturas psíquicas que permeiam o cotidiano do trem. Trata-se de uma estrutura extremamente violenta, de exclusão e desesperança[4]. Todos os dias o trem corta a cidade em uma liturgia da miséria, como um lugar de onde se observar à cidade como um corpo, sendo o muro da linha férrea a pele que separa o interior do exterior. Ao chegar na Central do Brasil podemos vemos um exterior que apresenta ordem e beleza, com as vias urbanas, os prédios, e o trânsito controlado pelos semáforos e os guardas. Para quem vai de trem a sensação é outra. A paisagem muda, e o que se vê são os barracos à beira do precipício no morro da Providência revelando a precariedade da vida. Além dos ambulantes e pedintes que entram anunciando seus produtos e contando suas misérias. No trem encontramos a prova material do preço pago pelo progresso e a modernização da nossa sociedade[5]. Em que tal estrutura pode interferir na condição existencial das pessoas que diariamente viajam da baixada fluminense à Central do Brasil? Na perspectiva da psicanálise podemos citar Eric Fromm que vai dizer:

“Não temos uma existência caracterizada por fraternidade (…) Mas um estado semelhante à esquizofrenia, em que ficou perdido o contato com a realidade interior e a vida intelectual está dissociada da afetiva”.(FROMM, 1956:03).

Neste sentido a realidade do trem aproxima as pessoas da exclusão e do exílio. Ao aproximar da exclusão, estreitando a distância entre a casa e o trabalho, o trem funciona como uma estrutura violenta e provocadora de um exílio, onde o indivíduo deixa sua casa para vender sua força de trabalho. Em uma existência marcada pela violência da exploração do trabalho e uma vida de extrema dificuldade vamos encontrar um ambiente fértil para o diálogo entre violência, religião e psicanálise.

E aqui iremos analisar um fenômeno pouco estudado e discutido pelas ciências sociais hoje: A igreja sobre os trilhos. Estamos falando de um grupo inter-denominacional, que todos os dias realizam um culto evangelístico que começa na estação de partida (Gramacho ou Saracuruna) e termina na Central do Brasil. Fizemos um levantamento durante algumas viagens, observando seu trabalho, analisando o discurso e a forma como se apresentam. Em linhas gerais podemos destacar que são pessoas de diferentes denominações evangélicas, oriundas de baixada, que pegam o trem diariamente para o trabalho. Eles então aproveitam a viagem para “fazer a obra de Deus”. Tudo se passa como em uma igreja. Eles vão chegando se ajuntando em um determinado vagão (em geral o primeiro) e daí seguem-se falas intercalada com músicas e no final (chegando na estação de São Cristóvão) um pregador traz “a palavra”. Ao término da viagem, eles convidam as pessoas para uma oração final “(…)que não paga nada, é de graça(…)”. Interessante notar em todas as falas observadas, ao se referir ao grupo presente, eles fazem uma saudação “(…) saúdo a igreja com a gloriosa paz do Senhor(…)”. Em nenhum momento ocorre alusão a denominação e nem mesmo um convite para ir a uma igreja. A igreja está presente no trem.

São muitos os autores e obras clássicas que analisam o fenômeno religioso que poderíamos citar aqui[6]. Contudo iremos delimitar nossa análise na perspectiva da psicanálise, analisando o ponto de vista de Freud e Jung, e na leitura que René Girard faz sobre a violência e o sagrado.

“Acreditam alguns que encontram a resposta num retorno à religião, não como um ato de fé, mas apenas para fugir a duvidas atrozes; não se trata de uma decisão inspirada pela devoção, mas pela necessidade de segurança”.(idem: ibidem: 05)

Este texto de Fromm traduz a perspectiva freudiana a respeito do fenômeno religioso[7]. Esta é uma leitura muito comum hoje, não apenas nos meios acadêmicos, mas também, no senso comum, quando criticamos os movimentos religiosos, e especificamente o neopentecostalismo. Pessoas sofrendo vários tipos de violência, contanto ainda com a incapacidade do Estado para garantir seus direitos constitucionais, apelam para a religiosidade como alternativa para encarar a realidade[8]. Com isso segundo Freud a religião é a ilusão oferecida como forma de responder as questões da vida. Diante do sofrimento o que a nossa sociedade oferece como resposta? O que dizer a uma mãe que sai de madrugada para pegar o trem, e enquanto está no trabalho o filho se perde no tráfico?

Ao se deparar com a falta de respostas a religião é uma âncora infantilizante. Sem menosprezar o legado da psicanálise freudiana, devemos ter em mente que o autor escreve sua obra no final do século XIX, portanto, distante no tempo e no espaço, em uma época em que a religião – em particular o cristianismo ocidental – está sofrendo as mais duras críticas com Nietzsche e Marx.

Porém as ciências sociais podem nos oferecer um outro caminho para ler as entrelinhas das linhas do trem, e quais as relações existentes por traz do som da ferrovia. Além do cricrilar de ferragens podemos ouvir gemidos, suspiros, e por detrás dos gritos e da glossolalia evangélica dos vagões, encontramos mais do que alienação e fuga da realidade. A priori podemos nos valer da afirmação de Peter Berger:

“Toda a sociedade humana é um empreendimento de construção do mundo. A religião ocupa um lugar destacado nesse empreendimento” (…) “No processo da construção de um mundo, o homem, pela sua própria atividade, especializa os seus impulsos e provê-se a si mesmo de estabilidade. Biologicamente privado de um mundo do homem, constrói um mundo humano. Esse mundo, naturalmente, é a cultura”.(idem, ibidem: 15-19).

Se o mundo é uma construção humana podemos dizer que a igreja do trem é uma forma de recriar um novo mundo rico em símbolos que vai muito além da alienação da realidade. Não se trata de questionar a existência de Deus, ou simplesmente dar forma ao fenômeno religioso, mas sim, analisar as vivências ali existentes, isentos de toda a preocupação com os dogmas, atentando para as motivações reais e presentes[9].

Religião e Psicanálise: uma perspectiva junguiana.

 

Para Jung a religião é a atitude do indivíduo em relação ao sagrado enquanto processo psíquico[10]. Para ele a religiosidade humana é algo genuíno e intrínseco ao ser humano[11]. Na perspectiva junguiana, todas as formas de simbolizar a realidade são manifestações psíquicas simbolizadas na religião. Neste sentido o século XX foi tão mitológico quanto a antiguidade clássica. Trocamos os “mitos religiosos” por outros mitos que são políticos, culturais, econômicos e ideológicos. Não há distinção entre a religiosidade presente na fé política dos militantes do Partido Comunista quando aos seguidores de Elvis Presley[12].

Jung usa a palavra religião no sentido religio (re e ligare), tornar a ligar. Diante daquilo que não se pode explicar, o ser humano psiquicamente cria um mundo simbólico que o religa a realidade através da experiência mística. Podemos neste ponto dizer que a experiência do culto no trem é uma forma de religar-se ao mundo diante de uma realidade onde tudo é violência e desligamento.

“Em razão disso, não podemos absolutizar nosso paradigma moderno, científico-experimental e técnico. Este não desnuda todas as dimensões da realidade, apenas aquelas que entram no diálogo experimental com a natureza. (…) Há também outras formas de diálogo, pois as várias culturas e os vários tempos históricos desenvolveram mil formas de conhecimento, seja pelos sonhos, pela intuição, pelos mitos e símbolos, pela reflexão religiosa, e outras mais.” (BOFF, p.15)

Sendo assim podemos lançar um olhar mais rico para o fenômeno religioso, onde o que iremos perceber a partir da observação de um pequeno grupo, uma linguagem que pretende recriar a realidade ao redor, onde os crentes assumem seu papel de agentes históricos, renegados pelo Estado e a sociedade.

Religião e violência

A relação existente entre a violência e a religião na perspectiva de Jung, onde a religião é uma estrutura psíquica do ser humano, repleta de simbolismos e da capacidade de recriar as ligações com o sagrado. Para falar sobre a relação entre violência e religião iremos fazer uma análise a partir da obra de René Girard[13] sobre o desejo mimético como origem da violência nas diversas sociedades. Ele parte da idéia freudiana de que o desejo do filho em competir com o Pai está presente nas relações de competição e superação do outro na sociedade. Desde a horda primitiva até o homem contemporâneo, todos buscamos na tentativa de ser superior e diferente do outro, uma reparação desse desejo mimético que trazemos desde a infância. As religiões surgem como elemento pacificador de tal desejo que nunca será satisfeito.

“(…) O religioso nada mais é do que esse imenso esforço para manter a paz. O sagrado é a violência, mas se o religioso adora a violência, é sempre enquanto esta se torna portadora da paz: o religioso é todo orientado para a paz, mas os meios dessa paz nunca dispensam a violência sacrificial (…)”. (GIRARD, 1980, p.28).

O cristianismo oferece justamente esta perspectiva sacrificial e pacificadora. Temos um Deus que é santo e está com raiva dos seres humanos porque estes desejaram se tornar semelhantes a Deus[14]. O sacrifício vicário seria a forma de aplacar a ira desse Deus e manter a paz dentre os homens. Aqui a religião aparece como um instrumento justificador da violência como meio de produzir a paz. Só há paz com sacrifício de vida. É a idéia do bode-expiatório presente até hoje, não apenas na religião cristã, mas na ética que rege a sociedade, onde sempre precisamos de um culpado para que a democracia e a vida política do Estado possa sobreviver.

“(…) Deus venceu o diabo e venceu a morte (…)” [Depoimento durante o culto no trem, dia 06/11/07]

Nesta fala podemos perceber a forma pela qual acontece a apropriação da mensagem sagrada no cotidiano. A mensagem bíblica é repleta de tragédias que são tomadas como espelho dentro da lógica sacrificial de Girard. Em todo o tempo a mensagem procura enfatizar o sacrifício de Deus na cruz, para resgatar o homem do pecado, ou seja, uma passagem da morte para a vida. Simbolicamente, passar da morte para a vida, significa sair da vida de miséria, de uma existência sem sentido para fazer parte de um outro mundo. E toda esta dinâmica é acompanhada de uma promessa futura, onde a negação deste mundo pecador gera no futuro uma recompensa.

(…) Ele [Deus] diz que nos vai preparar um lugar (…) [Depoimento durante o culto no trem, dia 06/11/07]

Em uma sociedade individualista e violenta esta linguagem traz propostas éticas e morais, que além do legalismo, oferecem princípios para a vida. Falar de princípios éticos em um trem lotado cheio de pessoas que são violentadas diariamente por uma sociedade capitalista, onde suas relações de trabalho muitas vezes acontecem a despeito de qualquer princípio, este discurso acaba funcionando como uma forma de apaziguamento da violência.

“(…) O religioso nada mais é do que esse imenso esforço para manter a paz. O sagrado é a violência, mas se o religioso adora a violência, é sempre enquanto esta se torna portadora da paz: o religioso é todo orientado para a paz, mas os meios dessa paz nunca dispensam a violência sacrificial (…)”. (GIRARD, 1980:28).

“(…) Só Deus sabe como está o teu caráter hoje até quando alguém pisa no teu pé, a vontade que te dá e a ira sobe e meter a mão na cara… Deus quer trabalhar no teu caráter! … Pedro era um homem falso… Dentro do vagão você diz que é bom, é crente, mas lá fora só Deus sabe o que você apronta. (…) Há um Deus que quando ele fala, ele não fere, e quando ele fere, ele sara, a Bíblia diz que ele corrige aquele ao qual ele ama. E se Deus te corrige nesta manhã (…)”[Depoimento durante o culto no trem, dia 06/11/07]

Ou seja, a mensagem de amor e abnegação do mundo, onde para fazer parte do grupo é preciso se abster de práticas imorais e ter uma conduta ética isenta as pessoas de questionar a ordem estabelecida da sociedade. Não importa se só se consegue uma grana a mais no orçamento passando a perna no outro, pois caso o contrário o salário não vai chegar ao fim do mês. Mesmo sofrendo a violência da exclusão capitalista, a dinâmica desta religiosidade acontece por meio de uma relação sacrificial, como é dito“(…) o meu Senhor querido ele se entregou em uma morte horrenda para provar que ainda há jeito para tua vida (…)”[Depoimento durante o culto no trem, dia 06/11/07].

Não se trata de uma questão de consciência sobre a exclusão, ou uma luta por igualdade social, mas sim de saber que sofremos injustiças neste mundo, mas Deus sofreu na cruz por mim, sendo assim, eu aceito o sacrifício me abstenho do pecado – mesmo que eu não tenha culpa objetiva – e deposito a minha fé em um Deus que irá prover as minhas necessidades. Este próprio sujeito – Deus – se torna um substituto dos bens de consumo que estas pessoas não pode comprar. E podemos perceber que em termos estéticos pregadores do trem são pessoas que não ligam muito para roupas, assumindo uma postura um pouco eremita em alguns casos.

Falamos de um outro mundo e mais que uma fuga da realidade, o fenômeno religioso dos pregadores no trem revela uma engrenagem sacrificial que permeia as nossas relações sociais. Eu me sacrifico e levo uma vida moralmente correta, sem vícios, longe das coisas do mundo – do mundo não-religioso, ou seja, pecador e imoral – pois fazendo este sacrifício eu terei um tesouro maior que é Deus. Além da lógica sacrificial presente na teologia cristã, onde a cruz serve como fato que aplaca a ira de um Deus raivoso, que deseja castigar os seres humanos pelo pecado original, este que por sua vez, traduz o desejo mimético onde simbolicamente o homem pecou, desejando ser como seu Pai Criador (Deus). Ao perguntar em uma entrevista a um dos participantes do grupo sobre alguma experiência de violência, descobrimos uma outra face desta relação entre violência e religião.

“(…) Muitos agridem a gente varão, uns verbalmente, outros carnalmente… por exemplo, a mim o cara me jogou no chão, o cara grandão me jogou no chão e eu pude levantar. Mas a bíblia diz que tudo isso é por amor de Cristo… e por aumentar a iniqüidade o amor de muitos esfriaria, quando acaba o amor, entendeu, entra a violência (…)”[Depoimento durante o culto no trem, dia 06/11/07]

Não é apenas uma relação de sublimação do desejo, mas se trata aqui de um conflito entre dois mundos. Um deles é o mundo da violência da exclusão social. Outro o mundo que surge a partir da ausência a estas questões de sobrevivência na exclusão, gerando um conflito entre ambos, que é aplacado pela lógica do bode expiatório. Sofrer a agressão gera uma resposta que deveria ser outra agressão. Mas a religião oferece o bode expiatório, ou seja, eu sofro em nome de algo maior, do qual eu não dou conta, é um mistério que me dá garantias para que eu sublime o meu desejo de responder a violência com mais violência.

“O sacrifício é um instrumento na luta contra a violência. (…) Ele faz convergir às tendências agressivas para as vítimas reais ou ideais, animadas ou inanimadas, mas sempre não susceptíveis de serem vingadas, sempre uniformemente neutras e estéreis no plano da vingança. O sacrifício oferece ao apetite da violência, que a vontade ascética não consegue saciar, um alívio sem dúvida momentâneo, mas indefinidamente renovável, cuja eficácia é tão sobejamente reconhecida que não podemos deixar de leva-la em conta. O sacrifício impede o desenvolvimento dos germes de violência, auxiliando os homens no controle da vingança.” (GIRARD, 1980:31-32)

Não conseguimos esgotar o assunto pela riqueza de temas que podem ser trabalhados. Não citamos, por exemplo, a possível história da formação destes grupos, não uma narrativa factual, mas um mapeamento da origem social deste grupo, comumente chamado de neopentecostais. Caberia um outro estudo e um trabalho de pesquisa mais extenso. Contudo aqui a nossa intenção foi apontar uma leitura através de um estudo de caso, onde pudéssemos ir além dos rótulos pejorativos (alienação, loucura) que demonstram uma violência das pessoas em relação a este grupo. Tentamos estabelecer o quanto estas relações são permeadas por atitudes de violência e como esta violência acontece na linguagem e na corporeidade.

Bibliografia:

BOFF, L. BETTO, Frei. Mística e Espiritualidade.
FONTE, Virgínia. Capitalismo, Exclusões e Inclusão Forçada. Tempo, Rio de Janeiro, vol. II, nº.3, 1996, p. 34-58.
ÁVILA, Antônio. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo: Loyola, 2007.
BERGER, Peter L. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: Paulus, 1985.
FREUD, O mal-estar na civilização, RJ: Imago, 1974.
FROMM, Eric. Psicanálise e religião. Rio de Janeiro: Instituto de Medicina e Psicologia, 1956.
GIRARD, René. A violência e o sagrado. São Paulo: Paz e Terra, 1980.
JUNG, ____________________ ?
MARCUSE, Herbert. Ideologia da Sociedade Industrial. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1967.
MENDONÇA, Sônia Regina de; FONTES, Virgínia, História do Brasil Recente: 1964-1992. Editora Ática.
OLIVEIRA, Francisco, Ditadura militar e crescimento econômico: a redundância autoritária, in, 1964-2004: 40 anos do golpe: ditadura militar e resistência no Brasil. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004.

Depoimentos coletados no dia 06 de novembro de 2007, durante a viagem no trem da Penha até a Central do Brasil, gravados em áudio. Colaboraram o presbítero Jorge e o irmão Felipe com participação em entrevista.


[1] Francisco de Oliveira faz um panorama interessante sobre o período, “O golpe de 1964 é o produto dessa transformação instável. O tripé político-social inicial, burguesia nacional, proletariado, Estado, se desestabiliza com a entrada dos capitais estrangeiros no setor de bens duráveis de consumo, novas classes médias urbanas passam a ser um ator central, (…) Faltando previsibilidade na política, a economia patina. Crise produzida pelo espantoso crescimento econômico e não pela sua ausência.”(OLIVEIRA, Francisco, Ditadura militar e crescimento econômico: a redundância autoritária, in, 1964-2004: 40 anos do golpe: ditadura militar e resistência no Brasil. Rio de Janeiro: 7Letras,2004, p. 222)

[2] Ver também para este tema MENDONÇA, Sônia Regina de; FONTES, Virgínia, História do Brasil Recente: 1964-1992. Editora Ática, o capítulo 3 “As bases do milagre”, traz uma análise geral sobre a relação entre o progresso econômico e as condições sociais no Brasil pós-64.

[3] “Se os indivíduos estão satisfeitos a ponto de se sentirem felizes com as mercadorias e os serviços que lhes são entregues pela administração, por que deveriam eles insistir em instituições diferentes para a produção diferentes de mercadorias e serviços diferentes?” MARCUSE, Herbert. Ideologia da Sociedade Industrial. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1967, p.63.

[4] Sobre exclusão social destacamos uma definição a seguir: (…) Características constitutivas da expansão do capitalismo, a impossibilidade de assegurar a própria subsistência ou o desemprego constituiriam uma exclusão? Seguindo o raciocínio de Marx, a resposta deve ser nuançada. O processo de mercantilização da força de trabalho corresponde de fato a uma exclusão das condições anteriores de existência, exemplificado por Marx em artigo clássico dedicado à transformação do consumo tradicional de lenha dos bosques comunais em roubo, privando os camponeses de fonte tradicional de abastecimento e desqualificando um ato consagrado pelo costume 6. Porém, corresponde igualmente a uma inclusão, uma vez que essa mão-de-obra deveria estar apta a entrar no mercado de trabalho. Inclusão não idílica, nem resultado do desejo individual de cada trabalhador, mas que constituiria o cerne central da produção capitalista. Expropriados da capacidade autônoma de sobrevivência e de parte do valor produzido por seu trabalho, mas incluídos em um processo mercantil e industrial que produzirá, ainda segundo Marx, as formas de pensamento para assegurar sua continuidade 7. Uma verdadeira sociabilidade adequada ao sistema capitalista por-se-ia em marcha, controlando e disciplinando tanto a força de trabalho efetivamente empregada quanto aqueles que constituíssem suas bordas, enquanto exército industrial de reserva.(…) FONTE, Virgínia. Capitalismo, Exclusões e Inclusão Forçada. Tempo, Rio de Janeiro, vol. 2, n°. 3, 1996, p. 34-58.

[5] Para nossa análise da sociedade de consumo e suas implicações na exclusão e na violência nos baseamos na obra de Fromm, como o trecho a seguir: “Jamais, anteriormente havia o homem atingido, como hoje, a realização das suas esperanças mais queridas. As descobertas científicas e os progressos técnicos permitem vislumbrar o dia em que todos terão o que comer, em que a raça humana formará uma comunidade unificada e não mais viverá como entidades separadas”, FROMM, Eric. Psicanálise e religião. Rio de Janeiro: Instituto de Medicina e Psicologia, 1956, p.3.

[6] Para o protestantismo brasileiro podemos destacar MENDONÇA, Antônio Gouvêa, PRÓCORO, Velasques Filho. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 2002. Traz uma análise da inserção do protestantismo no Brasil, desde sua origem no chamado protestantismo de missão dos Estado Unidos, até ó surgimento do pentecostalismo clássico, e das igrejas neopentecostais.

[7] Freud vai analisar a necessidade religiosa como fruto de uma carência paterna, sendo a religião um sentimento infantil de incapacidade de lidar com a realidade da vida: “Não consigo pensar em nenhuma necessidade da infância tão intensa quanto a da proteção de um pai. (…) A origem da atitude religiosa pode ser remontada, em linhas muito claras, até o sentimento de desamparo infantil. Pode haver algo mais por trás disso, mas, presentemente, ainda está envolto em obscuridade”, FREUD, O mal-estar na civilização, RJ: Imago, 1974, p.90.

[8] Para Freud “A religião tem sua origem no sentimento de incapacidade do homem, quando se vê confrontado com as potências exteriores, provindas da natureza, e com o seu próprio dinamismo instintivo”. (FROMM, p. 11)

[9] Para psicologia da religião, a obra de ÁVILA, Antônio. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo: Loyola, 2007, p. 18, diz “A psicologia da religião não reduz seu papel a uma mera descrição do fato religioso, mas deve fazer um juízo de valor sobre ele. Deve avaliar o comportamento humano compreendendo as vivências religiosas e discernir seu nível de maturidade, sanidade, etc.”.

[10] JUNG (?)

[11] “A divergência entre Jung e Freud, neste assunto, é absoluta. Para Jung a religião apresenta-se como um fenômeno genuíno; para Freud é um derivado do complexo paterno e uma das sublimações possíveis do instinto sexual”. (p.141)

[12] “Uma série de deuses e deusas vem desfilando ante nossos olhos. Primeiro as estrelas de cinema. ‘Essas estrelas são quase deuses e deusas e a mais perfeita dentre elas, Greta Garbo, recebeu a denominação de divina. Encarnam grandes arquétipos elementares: a paixão do amor’ (…)”. (p.144)

[13] René Girard é conhecido por suas teorias que consideram o mimetismo a origem da violência humana que desestrutura e reestrutura as sociedades, fundando o sentimento religioso arcaico. Girard se auto-define como um antropólogo da violência e do simbolismo religioso.

[14] Gênesis capítulo 3.


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