O Sagrado selvagem


História da igreja: Os Concílios Ecumênicos
fevereiro 22, 2012, 8:23 pm
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Introdução

Começaremos pelo Concílio de Éfeso, e consecutivamente estaremos abordando o de Calcedônia por apresentarem temáticas conseqüênciais. Em verdade, os concílios dos primeiros séculos da era cristã são dotados de tal peculiaridade. Todas as discussões giram em torno de debates sobre a divindade de Cristo, a duplicidade das naturezas – divina e humana – e suas implicações para a Igreja da época. Atualmente o cristianismo se encontra em um situação de conforto teológico, após tantas discussões e cismas, o cristianismo sobrevive bem com seus dogmas, principalmente em relação à figura de seu fundador, Cristo. Contudo, para os cristãos daquela época, muito envolvidos ainda em questões filosóficas, que hoje já não estão em pauta por consequência da modernidade – pois nosso pensamento hoje é pautado no cartesianismo –  ficando de fora questões “filosóficas”, ou seja, não comprovadas empiricamente pelas ciências naturais.

Este Concílio de Éfeso se desdobra sobre uma disputa política e teológica entre duas escolas importantes da época: A Escola de Antioquia e Alexandria. O debate encabeçado por dois grandes representantes das respectivas escolas, Nestório de Antioquia e Cirilo de Alexandria, que vão disputar dentro o império a justificativa de seus dogmas em torno do culto à Virgem, por sua vez, interferindo no dogma da divindade de Cristo.

A política, a sociedade e a Igreja: uma contextualização.

A situação do cristianismo após o século III, data da sua adoção pelo Estado como religião oficial, trará ao aparelho político do Império Romano uma crescente complexidade, o que torna necessário sua compreensão para entendermos o contexto em que ocorre o Concílio de Éfeso. Juntamente com a oficialização do cristianismo, temos o paulatino desmantelamento do Estado com a migração de povos do Leste e do Norte europeu, que desde o século II são empurrados para as fronteiras do Império.

“Até 330 ficou o cristianismo propagado em quase todo o território de Império Romano. No Norte, porém, não medrou, tornando-se em geral mais  florescente na bacia do mediterrâneo; à costa da Espanha, o sul da França, a Germânia inferior, o sul do Danúbio (ao norte ainda eram pagãos), a Itália (sobretudo meridional) e a Macedônia.” [1]

Mediante a falta de coesão do Estado, o cristianismo irá sofrer várias ameaças. Com isso Concílios são convocados para debater os dogmas e fortalecer a fé cristã. Os Concílios são denominados Ecumênicos, por reunirem bispos de várias regiões do Império, em uma época onde o poder temporal do Papa (o Bispo de Roma) está em processo de legitimidade. O termo grego ecumênico – oykoumene – que quer dizer “todo o mundo habitado”, é utilizado para classificar os concílios que reúnem bispados de várias regiões do Império. Estes são reunidos para discutir alguma questão teológica que possa abalar os pilares da hegemonia da fé cristã e juntamente com isso o domínio ideológico do Estado. As invasões bárbaras são o elemento principal que demonstram o desmantelamento do Estado e a necessidade de manter a hegemonia do aparelho ideológico[2].

“Foi neste turvo mundo de oligarcas sibaritas, com as defesas desmanteladas e massas rurais desesperadas, que os bárbaros germânicos penetraram ao cruzar o Reno congelado no último dia de 406.” [3]

A crise estava manifestada em todos os aspectos da sociedade, e o Estado procuravam manter sua hegemonia através dos seus aparelhos ideológicos, sendo a fé o grande aliado, por permear toda a estrutura política e social do Império.

“A organização social tribal era inseparável das religiões tribais. A passagem política a um sistema de Estado territorial também era inevitavelmente acompanhada pela conversão ideológica ao cristianismo – que parece ter ocorrido em todos os casos numa geração durante o início do cruzamento das fronteiras.” [4]

Segundo Perry Anderson, a conversão dos bárbaros era um aspecto social, de inclusão, de caráter coletivo e inconsciente para aquelas massas migrando do norte e do leste europeu para dentro das fronteiras do império. Isto revela o quanto à sociedade romana era complexa e o grau de dificuldade para a Igreja manter longe das heresias os dogmas da fé cristã. Constantino recorre aos Concílios para tentar abafar alguns cismas doutrinários que vão ameaçar a unidade do Estado Romano, nesta altura totalmente dependente da unidade eclesiástica.

“Sentindo-se incopetente, recorreu a Concílios: para o donatismo, em 314, o de Arles; para o arianismo em 325, o de Nicéia. Contudo não deixou a este último plena liberdade nas deliberações. O Imperador, cujo principal conselheiro era o bispo Hósio de Córdoba, pressionou a fórmula conhecida como Símbolo de Nicéia.” [5]

Como podemos perceber, a Igreja estava completamente tomada pelo poder secular, de pessoas preocupadas com questões políticas. Havia uma simbiose muito grande entre a fé e a política, pois qualquer ameaça a unidade do cristianismo imperial seria a ruína da fé, a perda da credibilidade dos bispos, e consecutivamente a desintegração total do Estado.  A postura do Império em relação as questões teológicas da igreja são agravadas com a adesão dos germanos, povos com outras tradições religiosas, enxertados dentro da igreja e influenciarão o surgimento de heresias dentro do cristianismo. Tornou-se constante e natural à interferência do Estado nas questões da fé.

“Mas foram principalmente as quedas em torno do arianismo que revelaram os inconvenientes recíprocos da intrusão imperial nas questões espirituais.”[6]

Com esta exposição pretendemos ter esboçado uma breve noção da complexidade social apresentada pelo Império Romano do século III ao IV.

O Concílio de Éfeso: A maternidade divina de Maria.

Este concílio é convocado no decorrer do quarto século para resolver questões decorrentes do debate entre a legitimação do Culto à Virgem Maria e da afirmação das duas pessoas em Cristo. Estes dois temas estão entrelaçados, pois a discussão sobre a maternidade divina de Maria irá levar a questões sobre a divindade de Cristo. Para alguns padres da Igreja, Maria era mãe apenas de Jesus de Nazaré, pois era inconcebível para a Igreja admitir uma mulher como “mãe de Deus”. Uma outra ala defendia a divindade de Cristo e a afirmação da maternidade de Maria, sendo assim, ela seria digna de culto. Inclusive Santo Agostinho foi um dos que defenderam o culto à Virgem, dizendo ser Maria isenta do pecado original.

“Mas será Agostinho que trará uma contribuição definitiva para fundar um culto sem receio, proclamando em seu tratado De natura et gratia (Sobre a natureza e a graça), que entre todos os seres humanos, Maria foi a única isenta do pecado original. Logo em seguida, um sínodo em Alexandria, no ano de 430, aprova oficialmente sua veneração e devoção. Contudo será o III Concílio Ecumênico de Éfeso, em 431, que selará, definitivamente, a sorte da devoção e o lugar de Maria na Igreja católica.”[7]

O tema central do Concílio será dado pelo debate existente entre duas grandes escolas da época: Antioquia com Nestório e Alexandria com Cirilo. Iremos fazer uma breve abordagem da teologia discutida pelas duas escolas, pois elas são a base para entendermos o que ocorreu no II Concílio de Éfeso.

Algumas características iniciais das escolas servem para clarear as coisas. A Escola de Antioquia ficava localizada na primeira comunidade de cristãos fora da Palestina. Nela os Patriarcas baseavam sua teologia nos estudos exegéticos das Escrituras. Sua base era a Filologia e História, baseada em um raciocínio lógico e muito sóbrio, tendo o a sua maior influência filosófica a de Aristóteles.

O maior expoente dessa escola é Nestório, oriundo da Germânia Cesaréia, que irá demonstrar claramente sua influência da escola, e como sua prática eclesial estava envolvida na política.

“Dá-me, ó imperador, a terra limpa de hereges e eu te darei o céu; ajuda-me a combater a heresia e eu te ajudarei a lutar contra os Persas”. [8]

Nestório pregava em suas teses a imutabilidade de Deus. Nesta escola vemos claramente a  influência dos conflitos nos Concílios de Nicéia e Constantinopla. Para o patriarca em questão, a substância divina é única e imutável, sendo assim, Cristo não pode ser uma hipóstase (substância) divina pois ele não é Deus. Cristo contém o Logos, portanto, Maria era mãe de Jesus de Nazaré, o Jesus histórico e não o próprio Deus.

Esta colocação suscita sérias questões ao redor da divindade de Cristo, o que é um grande problema para a fé cristã. Ao fazer a distinção entre o Logos e o Jesus Histórico, Nestório corre o risco de esvaziar o sentido da ressurreição de Cristo. O “esvaziou-se” de Deus perde toda a sua importância, pois não era Deus a hipóstase que estaria morrendo na cruz. A Escola de Antioquia defendia a perfeita humanidade de Jesus, sendo assim, Maria era mãe apenas de Jesus de Nazaré, não merecendo ser venerada.

“Ninguém venha me dizer que Maria é mãe de Deus; e foi mulher, e Deus não pode nascer de mulher; sustentar o contrário é imitar os pagãos, que dão uma mãe às suas divindades, nunca admitirei como Deus a um menino enrolado em panos, um menino que primeiro tem dois meses, e depois, três meses.” [9]

A Escola de Alexandria ficava situada no Egito. Sua orientação cristológica era fundamentada na Teologia do Logos, onde Cristo era verdadeiramente Deus e homem, mostrando sua influência platônica na leitura e análise dos textos sagrados. Cirilo era considerado o Faraó da Igreja de Alexandria, onde se constituiu a Escola de Alexandria a qual ele pertencia.  Tal era sua intolerância contra hereges e pagãos, chegando ao extremo de perseguições e assassinatos.

Sua teologia era baseada na tese da união hipostática (substancial) de Deus e Cristo. Com isso sua Escola irá se contrapor à tese de Nestório, afirmando que Maria era de fato a Mãe de Deus. Irritado com Nestório, Cirilo Apela para Roma e Celestino I manda que ele entregue uma carta de retratação para Nestório. Cirilo convoca um Sínodo de Bispos no Egito em 430 para reafirmar sua teologia sobre a discussão. Não resolvendo o assunto com Nestório, é convocado o III Concílio Ecumênico de Éfeso em 431.

Neste Concílio Nestório é derrotado e ficam definidas algumas doutrinas sobre a divindade de Cristo e o culto à Maria. Em Jesus há uma pessoa divina (hipóstase), existindo uma união substancial em Cristo com Deus Pai,  sendo assim, Maria é definitivamente a Mãe de Deus.

“Confessamos (…) Nosso Senhor Jesus Cristo o Filho único de Deus, Deus perfeito e homem perfeito (…), gerado antes dos séculos  por seu Pai, segundo a divindade, e nos últimos dias, o mesmo por causa de nós e para a nossa salvação, gerado da Virgem Maria, segundo a humanidade e consubstancial ao Pai por sua divindade e consubstancial a nós por sua humanidade. Porque a união das duas naturezas se realizou; e é porque confessamos um só Cristo, um só Filho, um só Senhor. Neste mesmo pensamento da união sem mistura, confessamos a Santa Virgem, Mãe de Deus, porque o Deus Logos se encarnou” (PG, 77, 176-177).” [10]

Em 433, os patriarcados do Oriente e Ocidente declaram as doutrinas nestorianas hereges, por negarem a divindade de Cristo. Mesmo assim, Nestório ainda insiste em difundir sua teologia, em algumas partes do Oriente Cristão e da Ásia. O nestorianismo chega à China e Mongólia, e na Índia chegou a contar com 450 mil nestorianos.

A grande crise ocorrida na Igreja em relação ao culto mariano é antiga. Já na Éfeso de Paulo, no livro de Atos (4 séculos antes), já havia conflitos na cidade sobre a divinização de algumas mulheres. No texto de Atos 19:24, Paulo se depara com o culto a Diana Ártemis, que vai demonstrar a influência da cultura helênica nos cristãos do seu tempo. Alguns historiadores afirmam que houvera um grande alvoroço quando o III Concílio de Éfeso legitimou o culto  Virgem, reapropriando o povo da cidade de sua perdida deusa antiga, tornando-se Maria para os efesianos a deusa da fertilidade e do amor.

Estes debates levados por Éfeso e outros concílios apontam para o lado poroso da formação dos dogmas da nossa fé. Por um lado temos o aspecto político-ideológico, muitas vezes disfarçado de Teologia, criando animosidade entre os bispados. Deferir ataques contra a humanidade-divina de Cristo, é destituir a Igreja de seu poder divinal. O poder se tornaria secular e poderia ser contestado, já que o Estado estava em crise por motivos externos (invasões, migrações) e internos (crise da escravidão, desmilitarização), e cabia aos bispados discutirem uma solução. Como podemos perceber, é difícil delimitar até onde o debate é em torno da fé ou da política.

Um outro aspecto interessante é a influência da filosofia helênica nas questões teológicas. A problemática discutida entre as duas escolas em Éfeso é plenamente pertinente. Afirmar a humanidade de Jesus, por um lado, secularizaria o poder eclesiástico, negando outrora um dogma de fé. A humanização de Jesus, tendo-o como mero portador do Logos, estaria pondo em risco a fé na ressurreição de Deus – o Deus que venceu a morte. Devemos considerar que tal questão era demasiadamente séria para aquela época, ainda completamente dominada pela cultura deixada pelo helenismo. O debate se dá no campo da Lógica e das palavras, onde afirmar a divindade de Cristo, obrigatoriamente resultou na divinização de Maria como mãe de Deus.

O Concílio de Calcedônia: Monofisismo

A controvérsias entre Nestório e Cirilo não cessaram após o Éfeso. Alguns teólogos levaram as conclusões de Cirilo a extremos, gerando um outro conflito a respeito da natureza de Cristo, o qual levará ao Concílio de Calcedônia.

“Levados pela oposição radical a Nestório, mesmo após o Concílio de Éfeso, alguns teólogos exageraram a doutrina de Cirilo e caíram no excesso oposto da doutrina que combatiam: o nestorianismo.”[11]

Esta controvérsia será levantada por um monge da cidade de Constantinopla, conhecido como Êutiques.

“Êutiques, abade de um convento em Constantinopla, tentando refutar Nestório, caiu no extremos oposto, que insistia no divino a expensas do humano, assim também os discípulos egípcios de Cirilo, que distorceram sua doutrina da união das duas naturezas de Cristo, declarando que havia apenas uma, a divina.”[12]

Tal controvérsia é levada adianta por Êutiques que vai afirmar a natureza única de Cristo, afirmando que união do Verbo na encarnação, absorveu a natureza humana de Cristo, fundindo-se em uma só pessoa (hipóstase).

“Enquanto os nestorianos afirmavam o dualismo de natureza e de pessoa em Cristo, Êutiques radicalizava, em represália, sustentando que, na união das duas naturezas, a natureza divina absorvera a natureza humana, de tal forma que não se podia falar senão de uma só, de uma única natureza, em Jesus Cristo: a natureza divina.”[13]

Está aberto mais um cisma dentro do cristianismo da patrística. Êutiques estava muito envolvido pela mística dos pais da Igreja, muito influenciado pela filosofia platônica marcadamente negadora das questões deste mundo, sempre preocupada com as coisas referentes ao mundo celestial. E era esse o contexto em que viviam os cristãos da época. Viviam em um período de crise, em todos os aspectos da sociedade. A controvérsia monofisista ocorre no século IV, onde já podemos constatar a crescente ruína do Império Romano e suas estruturas políticas. Como já vimos é uma época onde a unidade do cristianismo se coloca como fator fundamental para a manutenção da ordem imperial.

Mas a controvérsia monofisista demonstra o quanto era complexa a relação entre a Igreja e o Estado. É preciso cuidado para avaliar os conflitos teológicos da época, pois não podemos distinguir de forma clara, os limites entre estes dois universos: político e eclesiástico.

“A pretexto de perseguir os nestorianos, Êutiques, aliando-se a Dióscoro, patriarca de Alexandria, e com o apoio de Crísafo, começaram a perseguir os que não participavam de suas opiniões.”[14]

Para resolver a questão do monofisismo foi convocado um outro concílio, que deveria ser em Éfeso, mas em vista de guerras que estavam ocorrendo na região, o concílio foi convocado para a Calcedônia. A tônica do Concílio foi a discussão sobre a afirmação das duas naturezas de Cristo, ficando decidido em um documento chamado “Tomo de Leão”, decidindo que em Cristo há uma só pessoa onde coexistem duas naturezas, a divina e a humana.

“Muitos bispos protestaram, Flaviano e o legado romano, Hilário, manifestaram-se contra esta atitude e as conclusões dos monofisistas. Produziu-se, então, um grande tumulto, ocasião em que o patriarca de Constantinopla, inimigo de Êutiques, foi espancado e morreria, dias depois, em consequência dos ferimentos recebidos.”[15]

Ocorre um confronto entre os clérigos de Constantinopla e Alexandria, onde Êutiques, apoiado pelo patriarcado Alexandrino, foi condenado por Flaviano acusando Êutiques de ser herege. Ao ser convocado o concílio pelo Imperador Teodósio II, Dióscoro, patriarca de Alexandria assume a direção do concílio, favorecendo aos monofisistas. O papa Leão Magno envia uma carta (O Tomo de Leão) para o Concílio de Calcedônia, acusando o que havia ocorrido nos Concílios anteriores (Éfeso), chamando estes de Concílio de Ladrões. Ficou assim definido pelo documento do papa o dogma a respeito da pessoa de Cristo.

“Numa palavra, ficava definido o dogma de que me Jesus Cristo existiam duas naturezas, divina e humana, ambas inteiras, distintas e unidas numa só e mesma pessoa, sem mistura nem confusão, conservando cada qual suas propriedades mediante a união chamada hipostática.”[16]

Ao tentar aprofundar o debate contra o nestorianismo, Êutiques acaba cometendo um outro erro, negando a natureza humana de Cristo. Para ele a encarnação havia se apossado da humanidade, divinizando tudo, deixando de existir o lado humano de Cristo, o que constitui a sua heresia.

“Êutiques: … Admito que nosso Senhor teve duas naturezas antes da encarnação e uma só depois dela… Sou  discípulo, neste particular, do bem-aventurado Cirilo, dos santos padres e de santo Atanásio; eles falam de duas naturezas antes da união; depois da união e encarnação, apenas falam de uma natureza, não de duas.”[17]

A doutrina debatida por Êutiques vai ser fortemente repreendida pelo Papa, pois colocar em questão as duas naturezas de Cristo era uma grande heresia, por contradizer as declarações anteriores.

“Jesus Cristo é Deus, dizia Leão, porque está escrito: No princípio era o Verbo. E é o homem, porque se diz: O Verbo se fez carne. A dualidade de natureza não prejudica, segundo Leão Magno, a unidade da pessoa e é essa unidade da pessoa que faz professar no símbolo que o Filho do Homem desceu dos céus e que o Filho de Deus tomou carne da Virgem Maria.”[18]

Ao chegar no Concílio com esta carta de Leão, Hilário é recusado e todos são contrários à decisão do papa. Alexandria torna-se a capital do monofisismo, ficando a luta entre os monofisistas de um lado, e os ortodoxos de outro. Os ortodoxos eram adeptos da fórmula definida pelos Concílios anteriores, tanto em Nicéia como em Éfeso. A luta entre estas duas facções vão ocasionar um cisma dentro do cristianismo, onde os monofisistas de Alexandria tentam tomar a cidade de Constantinopla, e espalham as suas teses pelo Egito, Etiópia, Síria e Armênia.

Mas Frangiotti, um dos autores referenciais para este trabalho, traz a seguinte questão: não se esconde por trás da heresia uma pequena divergência sociocultural e política[19]? As heresias surgem justamente nas regiões afastadas do centro do Império, Roma, e demonstram um desejo de buscar uma liberdade de se opor ao poder central do Império. Ao afirmar a hipóstase, o papa está legitimando seu poder temporal, pois se ele recebera o poder eclesiástico através da sucessão apostólica, desde Pedro, ele recebera o poder de Cristo, o próprio Deus. Não existiria neste caso um desejo de subverter a hegemonia eclesiástica e política do Bispo de Roma usando toda essa discussão sobre a divindade de Jesus de Nazaré?

Conclusão

O que podemos concluir de tais questões? Podemos destacar aqui a princípio, a grande confusão ocorrida naquele tempo, o que não deixa a desejar em nada nas divisões ocorridas dentro do cristianismo contemporâneo. Os cismas da Igreja Patrística eram tão ou mais graves até, em relação á algumas heresias surgidas hoje. Efetivamente não se pode dizer que a Igreja antiga, estava mais próxima do que deveria ser o cristianismo. Pois, em realidade, cada tempo traz dentro de si uma crise. As crises são fruto do seu tempo, e cabe com isso, sempre contextualizarmos as questões teológicas dentro dos seus contextos históricos. A afirmação ou não das duas naturezas de Cristo, humana e divina, eram tão importantes para manter a fé, como da mesma forma, para legitimar o poder temporal da Igreja. Esta por sua vez, já bastante entranhada no aparelho burocrático estatal, a ponto de Imperadores intervirem nas discussões pertinentes aos teólogos.

Bibliografia

Eletrônica

http://www.ecclesia.com.br/a_igreja_ortodoxa/main.htm

http://www.ecclesia.com.br/a_igreja_ortodoxa/main.htm

http://www.ecclesia.com.br/a_igreja_ortodoxa/main.htm

Textos

ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo. São Paulo:Brasiliense,1974.

BARROS CÂMARA, D. Jaime de. Apontamentos de história eclesiástica.Rio de Janeiro:Vozes,1957.

CROUZET, Mourice. História geral das civilizações.São Paulo: Difel,1974.

FRANGIOTTI, Roque. História das heresias (séculos I-VII) – Conflitos ideológicos dentro do cristianismo. São Paulo: Paulus, 1995.

JÚNIOR, João Ribeiro, Pequena história das heresias. Campinas, SP: Papirus, 1989.


[1] BARROS CÂMARA, D. Jaime de. Apontamentos de história eclesiástica.Rio de Janeiro:Vozes,1957. p.59

[2] Conceito de Louis Althusser sobre Aparelhos do Estado, utilizados para manter a hegemonia política, os aparelhos ideológicos (mídia, educaçã, religião, forças armadas), funcionam como elementos pacificadores e mantenedores de hegemonia ideológica do Estado. Para saber mais ver: ALTHUSSER, Louis, Aparelhos ideológicos de Estado, editora Graal.

[3] ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo. São Paulo:Brasiliense,1974. p.101

[4] Idem, pp. 113-114

[5] CROUZET, Mourice. História geral das civilizações.São Paulo: Difel,1974. p.280

[6] Idem, pp. 281

[7] FRANGIOTTI, Roque. História das heresias (séculos I-VII) – Conflitos ideológicos dentro do cristianismo. São Paulo: Paulus, 1995. pp. 123-124.

[8] Idem, p.128

[9] Idem, p. 128

[10] Idem, p.134

[11] Idem, p.139

[12] JÚNIOR, João Ribeiro, Pequena história das heresias. Campinas, SP: Papirus, 1989. p.53

[13] FRANGIOTTI, Roque, p. 140

[14] Idem, p.141

[15] Idem, p.143

[16] Idem, p.144

[17] Idem, p.141

[18] Idem, p.142

[19] Idem, p.149



Roger Bastide e o Sagrado Selvagem… começando a conversa.
fevereiro 22, 2012, 8:14 pm
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Roger Bastide

Sociólogo francês, Roger Bastide nasceu em 1898, em França (Nîmes)e morreu em 1974 em Maisons-Laffitte. Em 1931, publicou a obra Les problémes da la vie mystique onde abordou, pela primeira vez, um tema que acompanharia todo o seu percurso científico: o fenómeno religioso. Entre 1938 e 1958 viveu no Brasil, realizando diversos trabalhos de campo (Recife, 1943; São Paulo, 1943, 1946, 1947) e ensinando na Universidade de São Paulo. Quando regressou a França, Bastide lecionou durante 10 anos (1958-68) na Universiade de Sorbonne e, mais tarde, foi nomeado Diretor de École Pratique des Hautes Études.
O fato de ter realizado diversas pesquisas de terreno e de ter participado pessoalmente em experiências religiosas proporcionou a Roger Bastide a possibilidade de observar de perto realidades diferentes das europeias e, deste modo, aprofundar o estudo das relações que se estabelecem entre o cristianismo e as diversas religiões africanas e brasileiras. Para além do estudo dos fenómenos sincréticos religiosos, Bastide interessou-se por outros temas, tais como, o fenómeno da aculturação no seu sentido mais global e a questão das doenças mentais, tendo publicado um extenso conjunto de obras que abarcam diversas disciplinas das Ciências Sociais: Antropologia, Etnologia, Sociologia, Etnopsiquiatria e Psicanálise.
Obras principais de Bastide:
1931, Les problémes da la vie mystique
1935, Eléments de Sociologie Religiuese
1943, A poesia Afro-Brasileira
1946-1953, Estudos Afro-Brasileiros,3 vols.
1950, Sociologie et Psychanalyse
1957, Brésil, Terre de contrastes
1958, Le Candomblé de Bahia
1960, Les Religions africaines au Brésil
1965, Sociologie des Maladies Mentales
1966, Les Amériques Noires
1970, Le prochain et le lointain
1971, Anthropologie Appliquée
1972, Le rêve, la transe et la folie
1975, Le sacré sauvage (obra póstuma)

Roger Bastide. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-02-22].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$roger-bastide&gt;.

“Falamos em antes e depois de Bastide, porque foi ele que, ao escrever o seu clássico texto “O sagrado selvagem”, definiu com clareza todo o processo dialético que há entre o sagrado não dominado, o sujeito-objeto da experiência religiosa, e o sagrado dominado da instituição religiosa. Embora a sociologia de Bastide nada tenha a ver com as teorias de Max Weber, neste caso, as que dizem respeito aos tipos puros ou ideais, não há como não observar que ambos os conceitos de Bastide, o de sagrado dominado e não dominado, são tipos puros ou ideais. Não há, na realidade, nenhum sagrado absolutamente dominado, como também não há um sagrado absolutamente selvagem. Nenhuma instituição ou igreja pode, com seus dogmas ou confissões, engessar completamente o sagrado: ele guardará sempre suas franjas de mistério pois, caso contrário, deixará de ser sagrado; um deus conhecido não é mais um deus, disse alguém. Por outro lado, a experiência religiosa, seja íntima ou objetiva, neste caso hierofânica, jamais capta o sagrado por inteiro pela mesma razão anterior.” (Antônio Gouvea Mendonça, A experiência religiosa e a institucionalização da religião, in.: Estud. av. vol.18 no.52 São Paulo Sept./Dec. 2004).

 

 

 

 

 

 



Hello world!
fevereiro 22, 2012, 7:20 pm
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